O tal do ale | Cor de papelão molhado | Verniz sobre papelão | 96 x 66 cm | 2024
O tal do ale | Cor de papelão molhado |Detalhe
Em um país onde a miscigenação foi usada como instrumento para embranquecer a população, encontramos diferentes tons de pele negra e diferentes classificações para determinar a etnia dessas pessoas. O negro sempre foi considerado um problema para o estado brasileiro. Antes dos movimentos negros conseguirem uma organização de luta para a construção da identidade negra, com base na criação de uma autovalorização e autoestima, ser negro sempre foi visto como algo ruim, quase como um xingamento. Para amenizar o suposto peso da palavra, até hoje, são usados vários eufemismos para tratar pessoas negras, como moreno, café com leite, clarinho ou cor de papelão molhado. Essas designações, que partem de uma tentativa de amenizar a palavra “negro”, a qual historicamente foi atrelada a uma conotação negativa no Brasil, terminam por invisibilizar identidades e reforçar o racismo contra elas. Nesse sentido, a obra é um revide em que o artista esboça sua reação ao ser chamado de cor de papelão molhado. Ironicamente, o autorretrato é feito sobre um papelão, com cores que remetem à sua pigmentação quando está molhado. Além disso, na composição da obra existem manchas que aludem ao tráfico transatlântico responsável por sequestrar milhares de pessoas de África para as Américas.