O tal do ale | Quatro mola | Papelão, papel pardo e cola quente | 11,3 x 12 x 33 cm | 2024
O tal do ale | Quatro mola | Detalhe
O tal do ale | Quatro mola | Detalhe
O tal do ale | Quatro mola | Detalhe
O tal do ale | Quatro mola | Detalhe
O tal do ale | Lupa | Papelão, fita adesiva marrom e cola quente | 3,5 x 15 x 16 cm | 2024
O tal do ale | Lupa | Detalhe
O tal do ale | Lupa | Detalhe
O tal do ale | Lupa | Detalhe
O tal do ale | Lupa | Detalhe
O tal do ale | Caixinha do Ale | Papelão, alto falante, placa de circuito impresso, bateria de lítio, led e parafusos | 17,8 x 18,8 x 12 cm | 2024
O tal do ale | Caixinha do Ale | Detalhe
O tal do ale | Caixinha do Ale | Detalhe
O tal do ale | Caixinha do Ale | Vídeo
O tal do ale | Doze mola | Papelão, cola quente e papel pardo | 15 x 25,2 x 32 cm | 2024
O tal do ale | Doze mola | Detalhe
O tal do ale | Doze mola | Detalhe
O tal do ale | Doze mola | Detalhe
O tal do ale |Sem título | Papelão, cola quente e papel pardo | 8,5 x 26,5 x 30,5 cm | 2024
O tal do ale |Sem título| Detalhe
O tal do ale |Sem título| Detalhe
O tal do ale |Bombeta| Papel pardo, papelão, cola quente e velcro | 11,8 x 17 x 28,5 cm | 2024
O tal do ale |Bombeta| Detalhe
O tal do ale |Bombeta| Detalhe
“Olha o kit!” é uma série em construção, que, essencialmente, representa o esvaziamento dos signos mais populares da cultura do funk paulista como forma de denúncia e empoderamento. A série fala sobre consumo, simbologia, identidade e, principalmente, de assimilação.
A percepção inicial que leva o artista a produzir a série é o contato com a crescente onda de assaltos a “kits” nos bailes funks de São Paulo. Como frequentador desses espaços, O tal do Ale usa sua arte como um ponto de reflexão sobre o poder de assimilação do movimento funk, que, desde sempre, incorporou diversas marcas de grife à sua identidade, como símbolo de conquista e ascensão.
A grande questão é que o valor e o novo sentido que esses produtos assumem são agregados. Um tênis serve para proteger o pé durante uma caminhada. A utilidade de um boné ou de um óculos é proteger os olhos e a cabeça do sol. Todo o status envolvido nessas peças é atribuído pelas marcas e, principalmente, pelo público consumidor, que no caso do funk, não é o público alvo dessas marcas. Mas essa é a grande jogada da assimilação desses símbolos pela cultura.
A partir disso, o artista seleciona algumas peças icônicas — tão icônicas que se tornaram signos — da estética do funk, para esvaziá-las de sentido, levando-as ao extremo da sua reprodutibilidade. O valor agregado a esses produtos elevam o seu preço monetário, tornando-os inacessíveis para muitos, mas o desejo de consumo é tão alto que, além da sua produção original, esses produtos passam por uma reprodução (a falsificação). As obras do artista entram em um terceiro nível de (re)produção. As marcas são retiradas, as formas são mantidas e o material usado é altamente descartável, barato, acessível e simbólico, e o produto final tem uma verossimilhança com os originais, apenas pelas formas.
Na obra “Quatro mola”, por exemplo, o artista reproduz um famoso tênis da Nike, feito com tecnologia de alta performance para corrida, lançado nos anos 2000. Ao chegar no Brasil o modelo se popularizou rapidamente na cultura do funk, o que trouxe para o item o estigma de “tênis de favelado”. Apesar da marca perceber a forte assimilação do produto por culturas marginalizadas, um modelo original custa em média R$1.000,00, o que não impede as pessoas de “portarem o quatro mola”, mesmo que falsificados. O artista escolhe essa obra como a primeira da série, por conta da alta popularidade do produto na cultura do funk e por conta da relação histórica das comunidades negras e periféricas com calçados, isso porque no período colonial pessoas escravizadas não podiam usar sapatos, e no pós-abolição o item, de certa maneira, se torna um símbolo de liberdade.
O uso do papelão nas obras, denota a marginalização desses objetos ao serem assimilados por um movimento cultural preto e periférico. Além disso, outro fato importante, é que a redução desses produtos a formas esculpidas nesse material simboliza o processo de retirada de poder desses signos, para possibilitar a reflexão de que o valor deles foi dado por terceiros, incorporados pelo funk, mas ainda são meras formas facilmente reproduzíveis. Os produtos por trás das esculturas ainda são reconhecíveis, mas já não há mais todo o status atribuído a eles. Por outro lado, enquanto obras de arte, esses objetos assumem uma nova aura de poder, tornando perceptível a relação poder-persona-ambiente.